POSIÇÕES DE DESCANSO | Residência PAR Uruguai [2019]
POSIÇÕES DE DESCANSO é como estou nomeando um conjunto de práticas interessadas em radicalizar a relação da percepção com a produção de performatividade e em discutir a relevância política de hoje nos voltarmos para aspectos elementares do corpo em movimento. Essas práticas compõem o processo de criação do solo “à escuta”, que à medida em que se expande para novos questionamentos e experimentações tem se tornado um campo de pesquisa.
É um espaço de investigação artística que se abre para a confiança no que o corpo já sabe, no seu aspecto instintivo de manutenção da própria vida, e para a relação disso com o mover, com a criação e com ser mulher. A fim de desmanchar pressupostos do que seria dançar, experimentar a nudez do movimento enquanto acontecimento e despojar-se de certas “roupas sociais” que atravessam o fazer artístico.
É um fazer nu, cru. Que diante do desmonte das políticas públicas para a cultura em São Paulo/Brasil, se lançou a seguinte pergunta: o que é necessário para criar? E desde então tem apostado na simplicidade de se debruçar sobre o que é elementar ao movimento em relação com a força do que pode o corpo.
É uma busca por um corpo autônomo, por uma dança singular que é ao mesmo tempo uma força coletiva de outros tempos. É descanso dentro do agir, sempre perto do vazio e do não saber o próximo ato, com atenção para poder escutar e deixar emergir dos cantos do corpo - daqueles que recebem pouca luz do sol - o movimento.
Como falar de movimento e abarcar todas as suas dimensões psicofísicas? Como dizer que conforme eu mudo a forma do meu corpo, nos detalhes de suas pequenas escuridões, geram-se imagens e memórias coletivas? Como falar que desse modo tenho experimentado o movimento como manifestação? Como considerar que isso acontece no corpo de uma mulher?
O filósofo Alva Noe fala da percepção como ação, nos lembra que perceber é experiência e que experiência é algo que produzimos. Ele sugere o sentido do tato, e não o da visão, como modelo para a percepção, o que tem se mostrado um caminho interessante para se pensar a produção do movimento performativo. A pesquisa POSIÇÃO DE DESCANSO esbarra nesses aspectos elementares do mover e quer esgarçar sensivelmente tudo isso em relação com o compilado de práticas que a constitui.
Para ler texto na íntegra acesse o ícone abaixo:
Em 2019, o projeto POSIÇÕES DE DESCANSO foi selecionado para o PAR- programa artistas en residencia de Montevideo (UY) com curadoria de Vera Garat e Tamara Gomez, dando continuidade às pesquisas e criação do solo "à escuta". Nesse contexto foi realizada uma abertura pública da residência no FIDCU- Festival Internacional de Dança do Uruguai, assim como uma oficina de compartilhamento de práticas no curso de licenciatura em Dança da Facultad de Bellas Artes de Montevideo.
